Resenha do disco “O Destino Vestido de Noiva”, de Fábio Góes

Música de refrão, com qualidade*
por Ricardo Oliveira

Foi em 2009 que conheci o som do Fábio Góes, de maneira pouco habitual. Na época eu trabalhava no Vida & Arte e por algumas semanas ouvi na TV uma música que tocava num comercial de automóvel. Era um poprock grudento e bom de cantar junto. Dava pra sentir que era algo bem cuidado, mas feito pra ser simples e se fixar junto ao conceito publicitário. Descobri, via Google, que a canção se chamava “Pictures” e assim se revelava o som do “FGóes”, como era conhecido pela web. A história explica parte da experiência que é ouvir hoje o lançamento “O Destino Vestido de Noiva”.

Há uma raiz pop no novo disco de Fábio Góes e, dependendo da faixa, é raiz exposta ou subterrânea. Certos arranjos e texturas musicais têm evidentemente a postura de um som que pode tanto tocar na novela das sete, como embalar um filme de um diretor independente de bom gosto. Não é novidade: Góes tem o dedo em trilhas de fitas como “Não Por Acaso” e “Cidade de Deus”.

“O Destino…” tem a marca de uma música feita com alma e isso é perfeitamente notável nas letras do disco. Todas as composições são de Fábio, em tom bastante intimista, falando de suas experiências como pai e marido, mas sem hermetismo e preocupado em ter refrões pra cantar junto.

Se em faixas como “Frágil” (a melhor do disco) há arranjos influenciados pelo britpop europeu, ouvimos também em “A Rua” pitadas de brasilidade vindas de Ben Jor. A canção de trabalho, que abre o disco, “Tão Alto e Fora do Lugar”, junto ao instrumental de “Incenso” (que lembram o Phoenix de “Fences” ou “Love Like a Sunset”), trabalham sonoridades que fazem falta à música nacional contemporânea. Ainda assim, o disco “sofre” com as facilidades das novas tecnologias: a produção musical merecia timbres mais orgânicos e menos digitalizados. A ideia do registro simples, caseiro e saboroso de “Sonho” deveria permear mais a obra de Góes.

E assim, com as devidas diferenças musicais, o cantor agora entra no hall dos interessados em fazer “música de refrão” com qualidade. Um pop muito bem-vindo.

*Publicada originalmente no caderno “Vida & Arte” do Jornal da Paraíba de hoje.

One Reply to “Resenha do disco “O Destino Vestido de Noiva”, de Fábio Góes”

  1. Somos dois. Também conheci este artista de forma mais inusitada, procurando quem tinha sido autor de uma música do comercial recente da Samsung 7 Series Chronos

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