Sunset Park, de Paul Auster

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Favorecido pela viagem para dar aula no último fim de semana, finalmente consegui terminar “Sunset Park”, de Paul Auster. Não que o livro seja longo (280 páginas), mas me faltavam “tempos mortos” e desconectados – de avião e suas esperas. Além disso, o livro só me puxou pelo pé mesmo em sua terceira e última parte, quando o protagonista passa a ser analisado por seus pares.

Nosso protagonista é um errante de 28 anos que deixou sua casa e vaga pelos Estados Unidos sem muitos desejos ou anseios para a vida. O começo do livro é marcante por apresentar a condição individual de Heller e de seu país: o emprego do rapaz é retirar objetos deixados pelos antigos habitantes de imóveis que foram desocupados após a crise imobiliária de 2008. O prazer particular de Heller é fotografar esses itens. Sua jornada se transforma quando por conta de um amor improvável e impossível tem de voltar a Nova York, onde busca reencontrar seus pais.

À certa altura, Morris, pai de Miles, lembra de uma conversa com ele na infância. O menino pede ao pai que leia sua análise, aos 10 anos de idade, do livro “O Sol é Para Todos” (To Kill a Mockinbird), de Harper Lee. O garoto encontra uma interpretação profunda demais para sua idade, achando metáfora rica de significado sobre as feridas no livro:

“Até que você seja ferido ,
não tem como se tornar um homem”

O pai nota a riqueza da observação quando reflete sobre a maturidade de Miles – sendo, de fato, uma página que marca todo o sentido da obra. Esta é uma visão que surge à certa altura da narrativa, mas não é assim que Miles se vê. Tomado pela culpa de um acidente no passado, ele se vê perdido e distante, se encontrando somente nos braços da adolescente Pillar.

sunsetparkcapaAuster faz uso de uma terceira pessoa para o narrador que me chama atenção. Ainda que seja onisciente, ele sabe tudo apenas sobre cada personagem, em cada seção do livro. Há uma dinâmica de tensão e expectativa em torno deste artifício, criando uma espera diferente pelo próximo capítulo. A descrição de encontros sempre se dará de forma inesperada, com o narrador delimitando bem os “espaços” que ocupa contando a história de cada um.

A força de Sunset Park se dá nestas crises individuais, na descrição de cada uma delas. Todos vivem problemas morais, dilemas de maturidade e vivência (em diferentes gerações), incluindo o país onde residem. Auster trabalha de forma excepcional quando nos insere nestes conflitos, mas peca quando soluciona as situações de forma muito rápida e até superficial. Após investir em subplots para os amigos de Miles, tudo termina de forma muito simples para todos e até para ele. Suas restrições, sua personalidade impenetrável, suas emoções contidas se redimem sem um clímax satisfatório, sem nos convencer totalmente.

Não termina sem deixar marcas, apesar dos contratempos. A Nova York de Auster segue nos encantando, junto aos seus personagens (sempre alguns cinéfilos), suas crises e suas redenções. Miles Heller e sua transformação é um pedaço de Nova York, dos Estados Unidos e da gente, passando as páginas de Sunset Park.

 

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