[Música] Que história é essa de ‘Hope Rock’?

Registro feito no House Show no Rio de Janeiro, por Eduardo Mano.

Que história é essa de ‘Hope Rock’? ou: Palavrantiga 2 anos depois

Quem acompanha o Diversitá há mais tempo sabe que eu sempre menciono uma das minhas bandas preferidas: Palavrantiga. Em 2008 eles lançaram seu primeiro EP, entitulado Volume 1 e fiquei empolgado o suficiente para ir atrás de uma entrevista. Segundo Marcos Almeida, vocalista, foi uma das primeiras que eles realizaram. Tudo gravado via Skype, com ele e Lucas “Fizin”, o baterista. Rendeu um podcast que está no ar até hoje e novos papos muito bons.

De lá pra cá eu me “aproximei” bem mais dos caras (tudo via internet) e no final de semana passado eu hospedei o sr. Marcos Almeida em minha casa. Ele veio a João Pessoa por conta própria, para tocar aqui gratuitamente. Coisa de gente doida, eu sei. Acontece que a vinda dele pra cá também tinha o objetivo de trazer a banda posteriormente, coisa que já tem sido articulada desde 2008.

Marcos tem andado por aí com uma história de Hope Rock, que ele mesmo define como uma música cuja base é a esperança. Ouvindo o som e lendo certas entrevistas você talvez seja bem direto: “hope rock que nada! Isso aí é música de crente!”. Pois é. Acontece que não é qualquer música.

Cristãos? Sim. Boring? Not.

Os quatro integrantes da banda são cristãos, sim – nada ortodoxos, mas bastante convictos da fé que tem. A música que fazem não é “mais ou menos” permeada pelo que acreditam. Ela é totalmente baseada no que acreditam. O problema central é que o rótulo de música “cristã” hoje em dia não é sinônimo de uma ideologia, mas sim de qualidade musical inferior. Ouvindo o som da banda você poderá confirmar exatamente o oposto.

Eles tocam muito bem, são músicos exemplares, com influências que passam por U2, The Killers, Coldplay, Los Hermanos, Chico Buarque e chegam nos famigerados cristãos que também fazem música boa, como João Alexandre, Jorge Camargo, etc. A minha grata surpresa foi saber que em seus ensaios mais recentes, eles elaboraram arranjos para músicas de Nelson Cavaquinho, Roberto Carlos e Los Hermanos. Canções que se adequam à sua proposta, de um rock menos sem fé na vida que o de sempre, porém, sem menosprezar as dores que todos tem. Ouvir “Vem me Socorrer” é a prova disso. A canção tem um tom contemporâneo, bastante inspirado no clima Little Joy, mas não fala de pequenas alegrias. Marcos grita sobre sua dor, mas não perde a esperança.


Marcos Almeida e seu hope rock ao vivo em João Pessoa.

Conhecê-lo pessoalmente foi poder ouvir algo que deve ser bastante considerado: a música popular brasileira sempre teve pitadas religiosas em seu lirismo. A diferença, obviamente, seria o proselitismo – as intenções de conquista para uma determinada fé. Não se ouvirá as músicas de Vinícius de Moraes, Caetano Veloso, Gilberto Gil e dos contemporâneos Otto, Céu, Ana Cañas, sem perceber notadamente referências às religiões afro como Candomblé e Umbanda. É impossível não reparar nas músicas de Cartola, Nelson Cavaquinho, Paulinho da Viola e nos contemporâneos do Los Hermanos e Marisa Monte, uma presença de uma cosmovisão que passa pelo Deus cristão, na perspectiva católica.

Umbanda music?

A pergunta que Marcos levantou no final de semana foi: você por acaso encontra Caetano e Céu na prateleira “Umbanda Music”? Claro que não, pois além destes artistas não buscarem um tipo de proselitismo a respeito do que creem, o mercado sabe que eles não representam isso (mesmo que a crença esteja evidente em várias de suas músicas). O grande problema talvez seja o fato de que a maioria dos cristãos evangélicos que fazem música, tem intenções proselitistas com sua arte, fazendo dela objeto de segundas intenções. Agregam-se em prateleiras que hoje mais afastam e segregam do que atraem e promovem boa arte.

O que o Palavrantiga espera não é algum tipo de revolução, mas ao menos uma evolução a respeito de um paradigma que deve ser descontruído. Música feita por cristãos não é necessariamente proselitista. O som do Palavrantiga pode sim ser bastante direto sobre sua fé, de forma salmódica e até chegar a ter tons eclesiásticos, congregacionais, mas possui uma visão de humanidade, que a maior parte não tem. A ideia é pensar o hoje, a condição humana atual e perguntar: do jeito que está, dá pra continuar? Veja o vídeo da música “Rookmaaker”:

Velho Irlandês, Crombie, Alforria, Tanlan são ótimos exemplos de bandas que tem seguido intencionalmente ou não este tipo de conceito. Não é estar em cima do muro em relação à fé, mas sim acreditar que arte é vivência e não necessariamente um objeto a ser usado para conquistar pessoas.

O som do Palavrantiga tem ido além das “barreiras” cristãs e novos parceiros tem acreditado nisso. Henrique Portugal, tecladista do Skank, não só ouviu e gostou do som, como convidou os caras para gravarem uma música no programa de bandas independentes que ele tem. Depois, o site FRENTE, que ele organiza, entrevistou Marcos e lá ele explica com mais detalhes toda essa história de Hope Rock.

Ao fim, deixo um dos registros mais interessantes para exemplificar essa jornada: os cariocas do Crombie junto aos rapazes do Palavrantiga tocando “O Vencedor” do Los Hermanos. Nem só de triunfalismo vive o cristão.

21 Replies to “[Música] Que história é essa de ‘Hope Rock’?”

  1. Eu tenho é orgulho desses meninos!
    Não só o Palavrantiga como o Tanlan, Alforria e Velho Irlandês.
    Ele me trazem esperança, alegria e um misto de tantos outros sentimentos.
    Alegria sempre como diz o Marcos!

  2. Mano, muito rico esse post!

    palavrantiga é como um legião urbana da minha adolescência, ter um som que resume sua cosmovisão, canções que transcendem a religião e os preconceitos e revelam o Deus eterno.

    abraço forte.

  3. Ótimo texto Ricardo, há menos de 1 mês fiquei conhecendo o som do palavrantiga e do pessoal do Crombie… Simplesmente ÓTIMO!

  4. acho esse papo de hope rock meio chato, meio auto-ajuda, no mais, eles são incríveis, o paragrafo intitulado umbanda music está incrivelmente perfeito, penso exatamente assim, demais caras

    esqueçam esse rotulozinho de hope music, please!

  5. Não sei se é um rótulo, Renato. Talvez Marcos dê uma passada por aqui pra explicar melhor a ideia.

    Pra mim ela se aproxima mais de um conceito, um conceito coletivo, inclusive.

  6. Ricardo, alegria sempre!

    É o Ouro, tudo isso aqui.
    Acredito que um termo – seja ele qual for – há de ser sempre mais pobre diante da riqueza que jorra dessa fonte criativa que é a Boa Nova.
    Inevitável, portanto é nomear as coisas. É assim desde o início. O que proponho é aproveitar nossa força para viver tudo isso que nos é proposto pelo Evangelho, assumindo nossa cidadania artística, repatriando aqueles que estão arremessados há um lugar distante da cultura pelo simples fato de confessarem uma vida diferente daquela estereotipada pelos movimentos estéticos pró-filosofia-afro [entre outras]. O cristão também é brasileiro. Também é humano e também se confessa como qualquer outro artísta NO mundo.
    Se nessa caminhada vier um nome, não fiquem triste com isso, rsrs!

    Abraço demorado em todos!

  7. só acho que fugir dos estigmas convencionais pra cair em um outro seria um equivoco, mas enfim, o importante é que eles continuem fazendo boa musica

  8. Muito legal o texto Ricardo. Ficamos muito felizes em sermos lembrados na matéria (Tanlan).
    Uma vez falei com o Marcos que precisavamos nos juntar pra montar um festival ou encontrão com todas essas bandas e projetos que tem tido este mesmo entendimento quanto a arte e música.

    Grande abraçø.

  9. Palavrantiga é minha banda nacional favorita, porém acho essa história de hope rock a coisa mais ridícula que já vi. Sério mesmo. Concordo que não deveria haver esse rótulo de músicas gospel para nossas músicas, porém ele existe. E se existe, então o que seria o hope rock? Um intermediário entre secular e gospel? Isso não agradaria a Deus, ou somos por inteiro ou não somos. E também sou totalmente contra a cristãos ouvindo músicas seculares. Exemplificando, existem cristãos que não acham pecado consumir bebidas alcoólicas portanto que você seja adulto e faça isso com moderação. Pessoas que acham isso provavelmente nunca tiveram um pai ou um parente que chegou bêbado em casa quebrando tudo. Levando para a música do mundo, é provável que aqueles que escutam nunca tiveram alguém querendo se matar, cheio de demônios em si, que não conseguia largar o sexo ou ainda que se auto-defraudava por influências de músicas seculares. Bom, já fui assim. E continuo não conseguindo entender porque cristãos insistem em ouvir música secular. Ou aquilo te edifica ou não, não existe nada neutro.

    Abraços

      1. Não foi esse o propósito do post. Ficar menosprezando o próximo. Se for pra rebatê-la, faça com opniões formadas, assim como ela fez, e não tentando diminuí-la.

  10. como a dani falou, hope rock xii sei não viu, tbm vejo como um lance que quer ser diferente do contexto das musicas seculares ,e do gospel que leva uma mensagem de esperança e libertação tbm mas com objetivo de espalhar as boas novas e convencer as pessoas da verdade;D , querer ser diferente dos dois é querer ser além do sim sim e não não , pena pq o muro que divide o santo do profano pertence ao profano, então essa parada de conceitos humanos (humanismo) é uma parada de por homem além de toda a boa obra ;] , então vamos correr da religiosidade (humanismo) e de levar mensagens só para a alegria do homem (humanismo) e levar uma musica um pensamento de agradar a Deus ^^ ,pois o Ide e pregai não foi uma escolha e sim uma ordem , um lei a ser cumprida ,é um fundamento, e se vc a evita então está indo contra toda a proposta das escrituras .
    Bom esta é minha opinião abração e a Graça e a Paz do nosso Senhor Jesus o Cristo .

  11. Cara vc mandou bem demais, é nisto que acredito. Cantai ao Senhor um cântico novo!!
    {palavrantiga}: poesia e espiritualidade, livre e verdadeira.

  12. Que relíquia esse post..

    Sensacional, nada mais!

    Parabéns pelas colocações e pela postura, tanto sua qnt de todos os músicos citados!!

    =]

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