Capitu: trilha sonora, direção de arte e dança

Depois de assistir a três episódios da microsérie Capitu (não sei se conseguirei ver pela TV os dois últimos. Encerrará mesmo sábado ou vai extender pra outra semana?) queria fazer algunas considerações rápidas sobre detalhes específicos:

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1. A trilha sonora realmente foi a outra importante escolha de anacronismo. Não é novidade termos tais escolhas, ok? Basta lembrar de casos mais comportados como em novelas de época que ouvimos canções românticas contemporâneas, ou mesmo numa referência importante para a série (direta ou não) que é aquele baile do filme “Coração da Cavaleiro” onde alguns séculos atrás o pessoal dança Golden Years do David Bowie. Só que ali parecia haver um interesse estranho, de se conectar a uma cultulrapop e tudo ficou meio estranho apesar de engraçadinho. Já em Capitu, trata-se de uma escolha ampla, que tem a ver com todo o contexto de conexões entre passado e futuro por conta das diferenças temporais entre o espectador e a obra, assim como também do narrador e sua história (em nível diferente, claro). O que há de essencial então, no uso de uma trilha sonora contemporânea, mesclada a toques eruditos? Luiz Fernando faz uma escolha pela ressignificação que ultrapassa tempos. A grandeza de qualquer obra-prima literária é o fato dela ser universal e atemporal. Por consequência, teremos então músicas que ouvimos hoje em dia e que tem a ver com a história de ontem que lemos hoje e se conecta com o agora – e não apenas com o século 19. A música é um dos elementos que evidencia isso. Escolhas de cenário também, como vimos no post anterior.

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2. Logo após o uso pela primeira vez da música Iron Man do Black Sabbath no primeiro trecho da cena com as prostitutas, tivemos uma cena emblemática para a direção de arte. No episódio de ontem o garoto Bentinho se encontrou fascinado pela primeira vez com o desejo sexual. A série então entra no delírio do garoto e traz várias prostitutas ao seu redor, dançando com suas roupas escuras variando entre preto, roxo e vermelho. Tudo isso com Bentinho vestido de branco, em uma cama branca com grandes lençois brancos (referência interna a Lavoura Arcaica?) ao redor. À medida que Bentinho começa a podar seus desejos e o narrador começa a descrever o tratado entre a consciência e a imaginação, as prostitutas se comportam e passam a ir embora. O detalhe principal está nesta saída e na solução encontrada pela direção de arte: os mesmos lençóis de ‘pureza’ agora cobrem as prostitutas como mantos de ‘santas’. Saída de mestre, assista abaixo:

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3. Por fim, a inesperada dança contemporânea. Elementos de dança já estavam presentes desde o primeiro capítulo, porém apenas pontuais, fazendo marcações em entradas ou saídas de atores. Porém, também no terceiro episódio, o personagem Escobar nos foi apresentado de forma inusitada. Logo depois de sua entrada andando sobre a mesa dos seminaristas, completa-se a ênfase de sua ousadia com um interessante trecho de dança contemporânea. Usado para enfatizar a idéia de que Escobar era “fugidio com as mãos e os pés”, também mostra o quanto que, gradativamente, o novo amigo de Bentinho invadiu a casa (alma) de muitas janelas. No vídeo abaixo:

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Por fim, claro, deixo para vocês um ótimo presente que achei por aí. O melhor exemplo de direção de arte – a celestial:

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As belíssimas Letícia Persiles e Maria Fernanda Cândido
As belíssimas Letícia Persiles e Maria Fernanda Cândido

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Ricardo Oliveira

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