423 Anos – João Pessoa é…

João Pessoa é carne-de-sol com arroz-de-leite no almoço de sábado e galinha de capoeira com feijão verde e farofa no domingo. É tapioca na Feirinha e sorvete na Friberg em seguida, não necessariamente nesta mesma (des)ordem. É passear naquela calçadinha até o Busto, tomando o sorvete e brigando contra o vento.

João Pessoa é aquela sequência de árvores abanando os carros na av. Epitácio Pessoa. Fazem sombra nas horas de rush que agora temos: engarrafamentos atrasando os almoços de segunda, terça… que irrita os irritáveis e perturba os perturbáveis.

João Pessoa é sentar nas areias de Tambaú e admirar o arco formado pelas pontas de Cabo Branco e Cabedelo: parecem desenhar uma harpa cujas cordas são aquele mar e suas ondas, dedilhadas pelas mãos do Criador – o som que acalma nas noites de lua cheia. É o busto de Tamandaré com os guris e marmanjos jogando futebol americano na areia fofa; a galera fazendo as rodinhas de violão; as banquinhas de DVD pirata e aquele terreno da esquina onde nunca se construiu nada.

João Pessoa é um retão de Manaíra que atravessa shoppings, caminha pela Tancredo Neves e cai nas bocas de Mandacaru, do Padre Zé, do Róger. É ver destes pontos altos o pôr-do-sol do rio Sanhauá e perguntar quando o sol nascerá e transformará estas realidades. Das favelas pessoenses seus moradores apenas assistem o sol se pôr.

João Pessoa é seu centro histórico que mescla antigas igrejas com bares, prédios históricos com boates, ladeiras com cabarés, gente com gente. É aquela vista do Hotel Globo, da Casa da Pólvora, é o trem que atravessa o Varadouro. É sensação de perigo nas redondezas do Theatro Santa Roza, mesmo que logo ao lado esteja a polícia militar e civil. É a av. General Osório e suas lojas de eletrônica, a ladeira do Terceirão, do Rei dos Esportes, da Loja Maçom e das Carmelitas. É o Ponto de Cem Réis e seu Palace Hotel com o Café São Braz. É o velho Cine Municipal, a Música Urbana e uma descida.

Pois João Pessoa é o parque Solon de Lucena e sua Lagoa. É o congestionamento dos ônibus, a superlotação das paradas, as barracas de batata-frita, tapioca, amendoim, churrasquinho e os pedintes. É o prédio da “Mesbla”, os caras oferecendo fotografia 3×4 na hora e a banca Viña Del Mar. São as lendas sobre caminhões de macarrão dentro daquelas águas, os pescadores ao redor, e a história verídica da morte de vários naquele passeio de barco numa semana do exército de décadas atrás.

E logo ali, ao lado, João Pessoa é aquele conjunto de ipês que florescem apenas por um dia e nos dão a chuva inesquecível de pétalas amarelas. Chuva que faz daquele chão o mais belo tapete para toda a gente que há nesta cidade e se permite observar sua beleza. João Pessoa é bela.

Parabéns por seus 423 anos.

RICARDO OLIVEIRA

Fotos: não achei exatamente o nome do fotógrafo, mas acredito que este seja seu flickr. Exceto pela última, dos Ipês, que é minha.

E pra vocês, o que é João Pessoa?

16 Replies to “423 Anos – João Pessoa é…”

  1. Uau! Que pelo lindo texto…vc descreveu sensações que realmente só quem mora em João Pessoa sabe…
    Poxa…saudade dessa terra que não é minha,mas que me acolheu de braços abertos. Parabéns João Pessoa!

    Bjo Ricardo!

  2. caraamba, João Pessoa é isso mesmo.
    só quem mora aqui ou já morou por um bom tempo…conhece de verdade isso!
    lindo texto..parabéns!!

  3. joão pessoa é o lugar que eu sem ter tido o direito de escolher, se o tivesse tido, reescolheria pra poder morar.
    ;)

  4. Espero que João Pessoa seja meu lar num futuro próximo.
    Mal posso esperar pra entender e sentir na pele essas mesmas percepções e sensações…

    =)

    1. É, Rodrigo. Existe uma lenda de que, certo dia, um caminhão de macarrão caiu na Lagoa e que, supostamente, o fundo dela estaria cheio de pacotes de talharim que cozinham no verão.

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