A não entrevista com Jô Soares

Seguindo a série de “não entrevistas” com grandes personalidades, o jornalista e poeta Astier Basílio postou hoje em seu blog a primeira parte do dia em que não-entrevistou Jô Soares. Desliguem seus celulares e leiam essa saborosa sátira ao gordinho mais chato do Brasil.

por ASTIER BASÍLIO

Foi numa livraria em São Paulo, onde eu não fiz essa entrevista. Jô Soares estava disfarçado de Jô Soares. Os óculos combinando com o xadrez da camisa de dentro, suspensório. Ele além de inteligente é chique, não é?

– Acho que a pessoa se vestir é uma arte, disse o gordo quando eu o elogiei. Nada melhor do que me aproximar dele, elogiando-o.

– Verdade que cê tem um ponto no ouvido, contando tudo pra você, assim…

Quase esboçando uma raiva, Jô resolveu que não fazia a pena e entrou na onda:

– Até pros improvisos. Minha equipe sopra um monte no meu ouvido. Eu tenho que escolher com a melhor piada às vezes. Ô desculpa, mas tô indo, viu?

– Agora, no meio da entrevista?

– Que entrevista, não dei entrevista nenhuma – disse o gordo, visivelmente espantado.

– Deu não, está dando. Isso é uma entrevista.

– Posso ir embora, sem o menor constrangimento.

– Fazer que nem você fez com o Falcão, quando você perguntou pra ele, “Falcão, esse seu visual não atrapalha na sua música não?”, aí o Falcão disse, “Jô, o meu visual afeta a minha música tanto quando sua gordura afeta a sua vida sexual”.

– Você tem isso gravado? – o gordo apontou o dedo

–  Não.

Jô Soares ri, sarcástico.

– Mas, todo mundo viu Jô.

Ele procura um atendente, pega um livro em francês, outro em inglês, outro em alemão. Eu insisto:

– Sério Jô, gosto muito de suas entrevistas. Vamos começar uma.

– Mas, essa não já começou? – observou o gordo.

– Claro, mas começou meio câmera escondida – respondi.

– Tá. E como vai ser? – quis saber, Jô

– Que nem o teu programa – falei. Só que o meu é, Programa do Pô.

– Tá. Mas, como é o meu programa?

Eu disse a Jô para ele se sentar em um canto, mais à frente. E disse: “Vai começar agora, tá?”. “Boa noite senhoras e senhores, aqui pela Rede Globo e pela CBN transmitindo o programa do Pô. Cientistas da Universidade Wesley Claudlin, no interior da Austrália descobriram que o cigarrinho depois do sexo contribui para menos tempo na duração de um casal (alguns risos, esparsos) É verdade. Eles testaram em ratos de laboratório (risos maiores) e verificaram que após fumar um cigarrinho depois do sexo o macho tende a trocar de parceira mais rápido (só o Bira ri, alto, Pô vira-se sério, agora toda a platéia ri). Ele ficou imaginando o ratinho procurando o cinzeiro (risos maiores, Pô faz uma careta, como se tivesse rindo, abre os braços e diz: )

– Hoje eu tenho o prazer em receber aqui no Programa do Pô, ele que é humorista, diretor, ator, trompetista, romancista… Jô-ô…. Soares (musiquinha do Sexteto ou será Quinteto?, ele vem me abraço eu xingo a mãe dele ele xinga a minha, rimos, levanto a mão, fecho a mão, a musiquinha acaba)

Pego um livro. Assassinatos na Academia Brasileira de Letras.

– “Assassinatos na Academia Brasileira de Letras”, do Jô Soares. É seu primeiro romance?

– Não, Pô, na verdade eu já escrevi….

– Eu também, Jô, olha que curioso. Sabia que eu já escrevi três livros? É. Um deles inclusive foi bem recebido pela crítica. Mas, então, vamos falar do teu livro. Se passa no começo do século não é, na década de 20?

– Olha, Pô, é nesse período, nessa efervescência do Rio de Janeiro é um romance policial….

– Sabia que “efervescência policial” subtítulo do novo “Sonrisal”?

– Não –  Jô ficando puto, mas fumaçando risinhos –

Continuo:  Eles fizeram o Sonrisal sabor ameixa e puseram a embalagem preta. Aí ficou o “Sonrisal Tropa de Elite” – uma verdadeira “efervescência policial”….

(ninguém ri. Pô diz: “que piada sem graça, meu Deus do céu, essa foi horrível”. Todo mundo começa a rir)

– Então, como eu ia falando… aliás, por falar em Tropa de Elite, em cinema, sabia que vão transformar o meu livro em filme?

– Ah é ? E quando é que vão transformar o seu livro em romance?

(continua depois)

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