[Especial] Blue Like Jazz


“Perceber aquilo que se tem de bom no viver é um dom daqui não…” já diria Marcelo Camelo. Ele provavelmente não conhece Donald Miller e vice-versa, mas possivelmente o autor americano ficaria feliz ouvindo as canções dos cariocas hermanos.

A escrita de Miller é livre e não falamos de um sentido estético, pois esse não é o ponto. Mas de alguém que está descobrindo a liberdade através do olhar para vida a partir da poética que existe dentro dela. Não se engane, ele não escreve em versos. O que Miller tenta nos descrever é seu encontro com a poesia do Poeta e de como isso mexe com ele em diversos sentidos.

Donald Miller não escreve como a maioria dos autores ditos “cristãos”. Você não encontrará em seus livros grandes conceitos colocados da forma mais tradicional, como faria um Philip Yancey ou Brennan Manning. Mesmo que todos esses também trabalhem suas obras através de reflexões e pensamentos, você consegue imaginá-los em sua frente, discursando. A escrita de Miller não indica isso, mas bem mais uma conversa de bar (muitas narrativas realmente dentro de cafés ou pubs) ou roteiro de cinema. Talvez seja por isso que Blue Like Jazz vai virar filme: uma série de reflexões com pequenas e grandes histórias entre elas, que podem dar um ótimo roteiro. Será?

Azul como o jazz

Blue Like Jazz ou, no Brasil, Como os Pingüins Me Ajudaram a Entender Deus (Thomas Nelson Brasil), é um livro de 2003 que foi bestseller do The New York Times. O jovem autor é de Houston – Texas, mas vive atualmente em Portland – Oregon, depois de uma longa viagem dentro de uma Kombi, narrada no livro Fé em Deus e Pé na Tábua (Through the painted deserts).

Seu bestseller está sendo adaptado para o cinema com roteiro feito pelo próprio Donald Miller, em parceria com o diretor Steve Taylor (A Segunda Chance) e o diretor de fotografia Ben Pearson. Em entrevista concedida ao portal The Belmont Foundation (fundação criada pelo próprio Miller em apoio a crianças orfãs em todo o mundo) o autor conta como tem sido o processo de adaptação de um livro de pensamentos sobre a espiritualidade. Confira a conversa logo abaixo, com tradução de Melina Rachel.

Como você vai transformar um livro de reflexões em um filme?

Donald: Não é fácil, mas, de alguma maneira, parece estar funcionando. Há apenas uma cena no filme que está no livro, e ainda assim, como nós testamos o enredo, as pessoas expressaram o quanto o filme realmente reflete o livro. Então eu acho que nós conseguimos capturar algumas das principais características e temas e conseguimos tornar essas idéias em uma narrativa.

Quando o filme será lançado?

Donald: Nós estamos em negociações com dois estúdios agora, portanto, ainda não sabemos com certeza. Mas nós faremos gravações do filme em Portland no campus da Universidade de Reed em abril, maio e junho de 2008, e eu acho que chegará nos cinemas em mais ou menos seis meses depois disto. Se tudo der certo.

Foi você quem escreveu o roteiro?

Donald: Eu fui membro de um grupo de três homens que escreveram o roteiro. Steve Taylor (ao lado) e Ben Pearson (abaixo) foram os outros caras. Steve irá dirigir o filme, e tem uma habilidade incomum de criar e entender histórias. Ele realmente entende o conceito da história de uma maneira mais que intuitiva. Ben Pearson será o diretor de fotografia e traz o elemento visual para a escrita, sempre perguntando como as coisas ficarão na tela. Ele forneceu linhas de segurança para nós quando continuamos a montar a história. Já eu forneci muito diálogo e emoção para o roteiro. Mas foi definitivamente um esforço conjunto e eu não poderia ter feito nada como isso sozinho.


Quão diferente é escrever um roteiro e um livro?

Donald: Escrever um roteiro é mais divertido, pelo menos da maneira como nós escrevemos este. Escrevendo um livro, eu posso escrever uma linha e achar que é engraçado, e depois de pensar nela por uns dois dias eu vejo que não é nem um pouco engraçado. Mas em escrever o roteiro com os caras, eu não poderia garrinchar uma linha sem eles me dizerem que era engraçado. O que antes levava dois dias, agora levou dois segundos. E por causa disso a escrita se tornou muito melhor mais rápido. Todo mundo estava sempre olhando para o ponto cego dos outros. Outra diferença é que em um livro eu posso falar sobre dinâmica interna, emoções e sentimentos e a dinâmica de processar uma idéia. Mas em um filme isso não é muito possível. A essência de um filme é a história. E então em vez de falar de como eu estava aprendendo a entender a elegância, nós precisávamos mostrar um personagem se desenvolvendo por eventos físicos verdadeiros. Isso foi um desafio, mas foi um desafio divertido para mim. Eu acho que eu aprendi mais sobre escrever quando eu fiz esse roteiro do que de todos os livros que eu já escrevi juntos. Agora que eu estou escrevendo outro livro, eu me pego usando as ferramentas que eu aprendi de quando escrevia o filme.

Você diria que o filme é sobre o quê?

Donald: O filme é sobre um garoto que aprende a não se envergonhar de quem ele é. No começo, ele tem vergonha de sua fé. Ele sente que fé é algo social e intelectualmente inferior, então ele luta entre amar a sua comunidade enquanto ele ainda não quer fazer parte dela. Quando ele vai embora para Reed, ele encontra uma fuga daquilo, mas através de um relacionamento com Penny ele tem que confrontar a realidade, que fé é maior e
mais abrangente do que ele havia julgado. E ele tem que encarar o fato de que ele é um dissimulado e é tão preconceituoso quanto aqueles que ele considerava seus inimigos. E a história continua daí.

Aonde nós podemos saber mais sobre o filme?

Donald: Nós ainda estamos num estágio de muito vai-e-vem, só porque a distribuição de papéis (casting) e as filmagens ainda estarão rolando por uns dois meses. Mas eu estarei atualizando meu website enquanto as coisas se desenrolam. Eu acho que será um filme divertido e tocante, e mal posso esperar assisti-lo junto com os fãs do livro.

***

Donald Miller é assunto da semana aqui no DIVERSITÀ. Serão postagens especiais sobre a obra deste autor instigante. Fique de olho e não perde, hein.

Agradecimentos a Melina Rachel pela tradução da entrevista!

Ricardo Oliveira

3 Replies to “[Especial] Blue Like Jazz”

  1. Super ultra mega plus entrevista. Só de ler já fiquei imaginando como será o filme… não vejo a hora de estrear!

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